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Envelhecer no Brasil: do preconceito à aposentadoria indigna

Envelhecer no Brasil: do preconceito à aposentadoria indigna


"Os velhos não servem pra nada. São um peso para a família!", são frases mais corriqueiras do que se imagina, principalmente com o envelhecimento da população que acontece no país. Frases muito comuns num sistema que decanta a eterna juventude em prosa e verso, mostrando que envelhecer no Brasil está sendo algo muito difícil.

O filme "Chuvas de Verão" (1977), de Cacá Diegues, contém uma cena antológica e considerada revolucionária ao mostrar os corpos nus da atriz Miriam Pires e do ator Jofre Soares em uma cena de amor e sexo.

A cena provocou risos na plateia jovem por não aceitar que idosos pudessem fazer sexo, quando Diegues pretendia justamente mostrar como a vida pulsa até o seu último suspiro.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que a expectativa de vida no país em 2015 era de 75,5 anos. E como as famílias têm diminuído de tamanho, a estimativa é de que a população de idosos supere a de crianças. Os estudos mostram que a população idosa passará de 19,6 milhões, em 2010, para 66,5 milhões de pessoas, em 2050. A população atual do Brasil é de pouco mais de 207 milhões.

Por causa disso, foi criado o Estatuto do Idoso em 2003, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que em seu Art. 2º assegura que os idosos devem ter mantidos "todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana" e "todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade".

Para o médico especialista Jorge Félix, essa realidade "é uma questão socioeconômica que o país realmente não está preparado para enfrentar. Nem o setor público, nem as empresas, nem os próprios indivíduos – que ainda não têm a consciência plena de que irão viver, em média, até 90 anos – estão preparados".

O Instituto Datafolha divulgou nesta terça-feira (28) uma pesquisa onde mostra que para 90% da população existe preconceito em relação aos idosos. Muito embora, eles apareçam no levantamento como responsáveis, educados e honestos, também são vistos como pouco produtivos, sem criatividade, pouco ativos, muito preconceituosos e não sabem se comunicar.

Além de enfrentar as dificuldades inerentes ao avanço da idade, os idosos enfrentam o dilema de receber uma aposentadoria insuficiente para uma vida equilibrada. Segundo a Secretaria de Previdência Social, existem no país pouco mais de 19 milhões de aposentados, segundo a Secretaria de Previdência Social, sendo que cerca de 70% deles recebem um salário mínimo, que é de R$ 937 e no ano que vem será de R$ 965, se o presidente ilegítimo Michel Temer não diminuir novamente.

"Isso é coisa de velho"

De acordo com dados de 2016 da Organização das Nações Unidas (ONU), um em cada três idosos brasileiros apresenta alguma limitação funcional. Sendo que 80% — cerca de 6,5 milhões de indivíduos — recebem ajuda de familiares para realizar alguma atividade do cotidiano, mas 360 mil não podem contar com o apoio dos parentes.

Por isso, 33,9% dos aposentados continuam trabalhando, de acordo com pesquisa, de 2016, do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas.

Para 46,9%, a renda é insuficiente por isso precisam continuar trabalhando. Já 23,2% sentem a necessidade de "ocupar a mente", enquanto 18,7% querem sentir-se produtivos e 9,1% trabalham para ajudar no orçamento doméstico.

Mesmo assim, o preconceito corre solto para dificultar a vida de quem já fez o que pode para tornar as coisas mais fáceis. Tanto que ganha força o termo gerontofobia (preconceito contra os idosos).

Muitas vezes quando há um conflito entre idosos e jovens ouve-se a frase "isso é coisa de velho" para justificar o desacordo e não resolver o problema pendente. Estudiosos apontam a convivência entre jovens e idosos para acabar com o preconceito, além de mostrar aos mais jovens o que representa o processo de envelhecimento e que eles também chegarão lá um dia.

Uma mulher postou em sua rede social que "toda vez que uso o transporte público fico reparando nas atitudes dos idosos. Tem dias que sou a primeira da fila a pegar o ônibus, aí chega algum idoso e passa na minha frente como de direito e claro respeito, porém, ao entrar no ônibus o senhor (a) acaba sentando no banco que não é de idoso. Daí fico pensando, por que não senta no banco de idoso (que é de direito) e deixa os outros bancos livres para os outros passageiros que não são idosos".

Maus-tratos

Mas ocorrem relatos de violência e maus-tratos a idosos, justamente por quem mais deveria cuidar deles, os familiares. Em São Paulo, Benedito, de 82 anos, denuncia violência física em uma entidade filantrópica. O estado é o campeão de relatos de maus-tratos a idosos pelo Disque 100.

Já o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios apresenta o Mapa da Violência contra a Pessoa Idosa do Distrito Federal, no qual, em 2016, foram registradas 1.157 denúncias de violência contra idosos, contra 1.097 em 2015. Pior ainda é que em 59,1% das reclamações referem-se a violências causadas pelos próprios filhos.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro anuncia ter recebido recebeu 1.406 denúncias de violência contra idosos e pessoas com deficiência. No mesmo período de 2016, os registros foram de 611 denúncias.

Como se vê a vida das pessoas acima dos 60 anos não está anda fácil num país tomado pelo ódio. Inclusive internautas criticam os assentos preferenciais em transporte público.

Por isso, Bahij Amin Auh, vice-presidente do Conselho Nacional da Pessoa Idosa, acredita na necessidade de "um amplo programa educacional para que toda a população tenha noções básicas sobre o processo de envelhecimento, para que valorize e respeite a pessoa idosa".


O CUIDAR IDOSO não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia/304869-1